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Sertsem: Mestres ao contrário

  • Thaíke Augusto
  • 2 de jan. de 2016
  • 4 min de leitura

Em Verdade, a Vida é Educação. E Deus é tão sábio que não há um algo nesta Escola Universal que não tenha sido cuidadosa e sabiamente programado para educar-nos. Não há onde possamos ir que fujamos do empuxo irresistível do progresso. Não há o que possamos fazer que feche de vez as portas do Deus Interior, assim como o vagalume não pode se esconder de seu próprio brilho. Não podemos fugir à realização de nós mesmos.

E, no entanto, nós cruzamos as fronteiras do absurdo para fugir à realidade inexorável. Ordenhamos até a última gota de nossas inteligências e criatividades para tentar fugir e inexistir. Para tentar dormir um sono impossível de pura inconsciência. E eis que o empuxo hercúleo do progresso parte de dentro de nós como a vida na frágil semente faz romper concretos e asfaltos. E eis que a inteligência se desenvolvendo com perversidade e negligência... ainda é inteligência se desenvolvendo. E, quer queira, quer não queira, dobrar-se-á à sublime Verdade, hora ou outra. E eis que a criatividade se desenvolvendo com perversidade e negligência... ainda é criatividade se desenvolvendo. E o impulso de criar é um espelhar rude ao Artista Cósmico. E a Beleza nos toca a todos. Fundo.

Assim sendo, tudo ensina. Tudo leva ao alto e pra dentro, custando mais ou menos tempo. Muda-se o comprimento da onda e o aproveitamento, mas a espiral ascendente da evolução vale pra todos.

E quando se dá esta constatação da inexorabilidade do aprender, alguns precipitados erguem-se exaltados e pronunciam extensos discursos caóticos de anarquia, misturando o bem e o mal como as crianças fazem esculturas de fezes e chamam-nas de bolo ou arte. “Podemos fazer o que quisermos”, dizem. “Qualquer de nossas escolhas, sejam elas construtivas ou destrutivas, boas ou más, sempre levam ao aprendizado de todos”, dizem. E passam a agir levianamente, ignorando seu sagrado papel na existência. Semeiam o caos, o desespero e o sangue e crêem-se responsáveis pelas belas obras de ordem que os despertos suam construir. Mas o caos só ensina quando reordenado...

E eis que aquele que dá surras como “instrumento pedagógico” crê-se exímio educador dos filhos responsáveis e maduros do futuro. Filhos que tiveram de reciclar o lixo da violência em algo útil a fim de continuar. Que tiveram de mergulhar fundo no lodo fétido do trauma para semear a lótus da superação.

Eis que o professor desinteressado, rústico e pessimista vangloria-se dos estudantes do futuro que conseguiram fazer algo belo de suas vidas. Estudantes que tiveram de desenvolver a arte do autodidatismo porque esta “educação” dos tempos atuais é, de forma geral, só um nome mais bonito para prisões que punem diariamente e em massa o “crime” de ser jovem e criança.

Infelizmente, a Terra ainda está cheia desses violentos. Pessoas e suas obras artificiais a que chamamos de sistemas. São eu, você, ele, ela, nós, isto e aquilo. E ainda que o mundo cresça e se desenvolva com ‘eles’ e apesar ‘deles’, nenhum merece, a meu ver, o título de Mestre. São, antes disso, Sertsem. Literalmente, mestres escritos ao contrário. Simbolicamente, mestres ao contrário. Inversos e aos avessos. Não-mestres capazes de ensinar os não-exemplos, as não-lições, os não-saberes. Exímios professores daquilo que não podemos ser. Daquilo que não podemos ter. Daquilo que não é sabedoria - quiçá conhecimento. E assim, por exclusão natural, professores daquilo que queremos ser. Daquilo que queremos ter. Daquilo que precisamos saber e conhecer. Daquilo que precisamos ser.

Tudo ensina.

Destes Sertsem, no entanto, o mundo está apinhado. Para sê-los, basta existir sem foco. Basta não se esforçar. É tão fácil ser um Sertsem quanto sujar suas roupas com o passar das horas. Fácil como sobreviver sem viver de fato. E ainda que cada ser humano por trás deste personagem triste mereça meu respeito, amor e consideração, eu não respeito, considero ou amo esta máscara vil que insistimos em usar por preguiça e medo de tirá-la de nossas verdadeiras faces. Para além destes mestres inversos, há mestres em verso em de cada um de nós. Sejamos esta poesia viva.

Os verdadeiros Mestres diferem dos Sertsem como a árvore frondosa e frutífera do espinheiro. São agentes da Ordem, da Luz, da Verdade. Não, porém, esta ordem mesquinha que a neurose adoecida faz antever; esta ordem teatral, rígida, punitiva e castradora da qual nossas “forças” armadas são exemplos sangrentos. A Ordem a qual servem os mestres é a do Cosmos; ordem absolutamente complexa que sabe ser flexível como a água e rígida como o aço, adaptando-se como convém. É a Luz que revela o que a ignorância oculta. É o fio condutor que dá harmonia ao tecido. É a estrela ao norte que guia o marinho em nós pelo vasto oceano da inconsciência. É a doce melodia que nos leva a percorrer o labirinto da dúvida com algum ponto de referência.

Enquanto os Sertsem são o megafone da desgraça, os Mestres são a sinfonia da esperança. Sua força, sabedoria, beleza e grandeza residem em sua conexão com Aquele que é a Fonte Infinita das forças, sabedorias, belezas e grandezas. Compreendem que são meras flautas a dar seu timbre único ao Sopro Divino. Oferecendo-lhes água transformam-lhe em vinho. Lançando-lhes serpentes, fazem-nas abrigo do tempo hostil. Tecem a teia da Verdade com a dedicação de uma avó amorosa ao acolher a trama emaranhada de nossas dúvidas e inseguranças. São mestres, enfim, por que praticam a arte de entregar sua fala à Voz divina que ressoa em seu íntimo.

Ambos, a árvore frondosa e o espinheiro, coexistem em nós. Qual nós temos aguado e adubado? Se tudo ensina, por quais meios queremos aprender? E por quais meios queremos ser agentes humildes desta proposta educacional a que chamamos vida?


 
 
 

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